Século XVIII. Nuvens negras pairam sobre a Inglaterra. E isso não é nenhuma metáfora, nem uma referência ao típico clima inglês. A Revolução Industrial começou e nuvens de fuligem escurecem os ares e pulmões da Inglaterra.

Esta nova edição de Brass com certeza é uma valiosa nova edição de um jogo que merecia absolutamente uma nova edição. O Brass original cumpriu dez anos idade em 2017, mas o jogo, por Martin Wallace, ainda ostenta o vigésimo quarto lugar na BoardGameGeek a esta altura (atualização: Brass: Lancashire em 23º lugar e Brass: Birmingham em 16º Lugar). Nada mal para uma época em que há tantos lançamentos que a maioria sequer será lembrada daqui a dez anos.

Duas novas edições pela Roxley são uma ótima oportunidade de fazermos uma review deste clássico moderno. Tecnicamente, Brass: Lancashire é uma nova edição do Brass original. Brass: Birmingham é melhor definido como um spin-off. Entretanto, os dois jogos têm regras e tema tão parecidos que decidimos colocá-los em uma review só e destacar as diferenças.

Fumaça sobre o Norte da Inglaterra – Regras de Brass: Lancashire

Brass: Lancashire é um jogo de economia e logística. Nos anos primevos da Revolução Industrial, os jogadores se lançam em uma empreitada para construir seus próprios impérios de fábricas e rotas de transporte entre elas. Dada a profundidade estratégica do jogo, seus fundamentos são notavelmente simples.

O bom ferro de Bolton

O jogo consiste em duas eras, a Era dos Canais e a Era das Ferrovias. Em cada era, você joga com a mesma pilha de cartas até que a pilha e a mão dos jogadores acabem. No final de cada era, você pontua pelas suas indústrias e pela sua rede de transporte. Em cada turno, jogam-se duas cartas da mão para causar duas ações. É isso. Como usar essas duas ações para maximizar seus pontos é a questão, aí sua cabeça começa a fritar.

A jogada mais óbvia e a maneira mais óbvia de pontuar é construindo indústrias. Essa é a única ação em que o que a carta mostra é importante. As cartas mostram ou uma cidade, que vai permitir construir qualquer tipo de indústria nela, ou mostram um tipo de indústria que você pode construir em qualquer cidade da sua rede de conexões.

Construir indústrias não sai de graça. Você paga com dinheiro da sua reserva, apenas. Carvão e ferro são muito mais interessantes. Uma parte da indústria que você constroi são minas de carvão e de ferro. Você põe uma determinada quantidade de cubos laranja ou pretos quando você constroi alguma indústria. Quando você constrói alguma coisa que precisa de carvão ou ferro, você tem que usá-los. O ferro é usado em quantidades relativamente pequenas, o que significa que o transporte não é muito problemático e você pode consumir esses cubos vindos de qualquer lugar. O carvão, porém, é usado em larga escala, o que significa que você só pode utilizá-lo através das rotas de transporte adequadas (veja abaixo) e, por motivos de eficiência, você tem que pegá-lo do fornecedor mais próximo.

Transporte contratado

Essa parte de pegar carvão do fornecedor mais próximo é um ponto crucial de Brass, pois fazendo isso, você está prestando um grande favor ao seu oponente. Quando o último cubo de um tile de indústria é usado, você deve virá-lo com a face para baixo. Só agora ele vale pontos de vitória no final da era. Um oponente esperto pode forçá-lo a usar o carvão dele ao invés do seu próprio se ele conseguir adivinhar os seus planos.

Transporte é algo essencial, por isso sua segunda opção de ação é construir canais ou ferrovias, dependendo da era. Por qualquer carta e algum dinheiro você pode construir uma única conexão de transporte. Na era das ferrovias dá para construir duas conexões ao mesmo tempo, pagando um preço bem mais alto em dinheiro. A maioria das conexões viabiliza canais ou ferrovias, mas algumas só podem ser construídas ou como canais ou como ferrovias e não estão disponíveis na outra era. Conexões são necessárias para expandir sua rede de transporte e para escoar o carvão para onde for preciso, mas elas também são bastante rentáveis. Cada indústria virada em cada ponta da conexão faz ela valer pontos. E não importa de quem são essas indústrias. Apenas lembre-se de que você vai ter que construir várias conexões duas vezes: os canais são removidos no final da Era dos Canais e você começa a Era das Ferrovias em branco, em termos de transporte.

No entanto, carvão e ferro não são as únicas coisas que a sua indústria produz. Algodão é um bom negócio também e, visto que não há cubos de algodão, a maneira de virar os tiles de Fábrica de Algodão é outra. Por uma ação e descartando uma carta qualquer, você pode vender algodão das suas Fábricas de Algodão e virá-las imediatamente. Tudo o que precisa é de uma conexão da Fábrica de Algodão até um tile de porto. Se o porto ainda não estiver virado, você pode vender nele e virá-lo também, mesmo que ele pertença a outro jogador. Ou então você pode vender no Mercado Distante, mas a cada venda nele a demanda cai, até que o mercado feche.

Não tão rápido com os navios!

A próxima ação é desenvolver a sua indústria. Todos os tipos de indústria vêm em níveis diferentes. Você desbloqueia níveis mais altos construindo os mais baixos ou desenvolvendo, ou seja, removendo os tiles de nível baixo do jogo. Indústrias de nível mais alto são mais caras para construir, mas também mais rentáveis. Então desenvolver é um investimento no futuro. Além disso, todos os tiles de indústria de nível 1 são removidos do tabuleiro no final da Era dos Canais e você não vai poder construir aquela tranqueira obsoleta na Era das Ferrovias.

E, finalmente, como ação, é possível tomar um empréstimo: Pegue um tanto de dinheiro, mas diminua a sua renda, como juros. O dinheiro em Brass é manuseado de maneira simples e rápida. Não é necessário contar todos os seus tiles no tabuleiro na hora de coletar a renda. Sempre que você vira um tile de indústria, você ajusta o seu contador de renda, quando você coleta renda você simplesmente olha onde o marcador está e pega uma mão cheia das fichas de dinheiro.

O dinheiro em Brass também é usado para determinar a ordem dos jogadores. Conta-se todo o dinheiro que cada jogador gastou durante seu turno e quem gastou menos será o primeiro a jogar no próximo. Simples, mas com um impacto estratégico profundo. Você quer ser o primeiro no próximo turno? Beleza, é só não fazer nada caro agora. Que decisão simples, né?

O que será que aconteceu no shire – Diferenças das edições antigas

Não tem muita novidade aqui, as regras são basicamente as mesmas das edições antigas de Brass para Brass: Lancashire. Alguns detalhes mudaram, e para melhor, na minha opinião. Liverpool e Birkenhead agora são duas cidades completamente separadas. Aquela meia-conexão estranha que permitia você construir em uma se estivesse conectado à outra, mas não permitia transportar carvão, já era. Outra mudança é em relação à preparação do deck para o jogo. As regras antigas faziam você remover cartas aleatórias para fazer o deck se adequar à quantidade de jogadores. As novas regras removem cartas específicas, para ter um jogo mais determinista. E, enfim, as regras agora funcionam de dois a quatro jogadores, você não precisa mais criar regras próprias para jogar de dois.

Liverpool e Birkenhead – Divididos novamente

Bem-vindo às Midlands – Brass: Birmingham

As regras básicas são as mesmas de Brass: Lancashire e Brass: Birmingham. Além do básico, porém, você encontra várias diferenças dignas de serem comentadas. Para começar, não há mais portos e estaleiros. É só procurar Birmingham em um mapa, dispensa explicações. Ao invés disso, há olarias, manufaturas de bens indeterminados (vamos imaginar que são canecas) e cervejarias.

Conheço um mercador, um cara bem generoso

Manufaturas e olarias são parecidas com fábricas de algodão: Para virá-las você deve usar uma ação de venda. Você pode até vender de tipos diferentes de indústria por uma única ação. Cerveja, por outro lado… Cerveja é diferente. Visto que não há mais portos e nem mercados distantes para saturar, tinha que ter outro limite de quanto pode-se vender. O limite é a cerveja.

Sempre que você vende algodão, canecas ou potes (da olaria), você precisa fornecer cerveja. Cervejarias são parecidas com minas de carvão e ferro. Quando você coloca uma cervejaria em jogo, você põe um determinado número de barris no tile, que você consome para as ações de vender. Quando você vende bens, a cerveja necessária pode vir das suas próprias cervejarias, onde quer que estejam, ou das cervejarias dos oponentes, se elas estiverem conectadas à sua rede. Uma terceira opção é consumir cerveja provida pelo mercador para o qual você está vendendo. Você ganha até um bônus quando você faz isso, uma recompensa por vender cedo em uma das eras.

O que fazer no Norte da Inglaterra em um fim de semana chuvoso – O veredito

Sem dúvida qualquer edição de Brass é um excelente jogo de economia. O fluxo é bastante simples e bem estruturado, mas a quantidade de opções e as suas consequências no longo prazo fazem com que qualquer decisão, desde a primeira jogada, seja interessante e importante. No entanto, Brass flui rápido graças aos turnos de apenas duas ações. Você vai sim ter que esperar os outros jogadores, mas nunca ao ponto de poder refletir sobre o que você poderia jogar enquanto espera.

O que determina grande parte de quanto você permanece engajado no jogo é quão importante são as ações dos outros jogadores para você. A interação é o que sempre me chamou a atenção em Brass. Não a interação em termos de negociar e formar alianças, nem a interação do tipo que você encontra em jogos de leilão. Um termo que eu já ouvi para descrever isso é cooperação agressiva, e eu acho que encaixa perfeitamente. Observe o que ninguém está construindo e faça disso o seu nicho. Construa minas de ferro enquanto ninguém tem, assim é mais barato para os outros comprar ferro de você do que construir as próprias minas. Faça-lhes propostas que eles poderiam recusar, mas é simplesmente mais barato aceitá-las. Isso significa que não existe uma estratégia vencedora. Observe seus oponentes, reaja às suas ações, arranque deles alguns pontos a mais do que eles conseguem lidar. Reação é a palavra.

Isso sempre valeu para o jogo que agora leva o nome de Brass: Lancashire, e também para Brass: Birmingham. Os dois jogos são parecidos o suficiente para permitir que você aprenda a jogar o outro em cinco minutos. Mas também são diferentes o suficiente para você ter que inventar novas estratégias. A mudança de portos e saturação do mercado para cervejarias e cerveja para limitar as suas vendas é bem importante.

A questão é: Se eu tenho um Brass, eu preciso do outro? Eu realmente quero dizer: sim, porque ambos os jogos são brilhantes. Mas, para falar a verdade, a resposta é: só se você joga muito. Se você joga Brass de vez em nunca, então qualquer um dos dois vai te entreter por um bom tempo. Se você se pegar jogando Brass toda semana, então comprar o outro jogo com certeza vai valer a pena. Mais daquilo que você gosta, mas diferente o suficiente para te manter ligado.

Finalmente, uma palavra sobre a Roxley Editions. Nossa review é baseada na versão Deluxe do Kickstarter dos jogos, e aquela ficha de dinheiro estilo ficha de poker é extremamente agradável de manusear. Há algumas outras diferenças nos componentes, mas a versão a ser lançada no Brasil é ótima também, ambos têm várias ilustrações lindas. É necessário muito trabalho para fazer um tabuleiro no estilo mapa e cartas de cidade e indústria terem uma aparência tão boa. As ilustrações da caixa também estão entre as melhores que eu já vi.

Esta nova edição de Brass com certeza é uma valiosa nova edição de um jogo que merecia absolutamente uma nova edição.

Traduzido e adaptado por Bruna Petrocelli de:
https://www.meoplesmagazine.com/2018/11/12/brass-lancashire-birmingham/

8 thoughts on “Brass: Lancashire & Birmingham

    Estou procurando faz muito tempo esse jogo para comprar e não encontro. Vocês não vão mais vender este modelo em PT BR?

      Teremos novidades de Brass em breve!

      Eu comprei usado, em excelente estado, na Ludopedia. Abraço!

    Bom dia!! Me chamo Rodrigo e gosto muito da linha de jogos Brass!!

    Existe alguma data para o Brass Birmingham voltar a ser vendido? Com toda certeza além de mim existe um grupo grande de pessoas que esperam ansiosíssimas uma oportunidade de comprar o jogo novo.

    De qualquer maneira, desejo muito sucesso a Conclave.

      Teremos novidades de Brass em breve!

    Opa, alguma novidade sobre uma possível nova tiragem do jogo? Suponho que com a consolidação dele como 1º no ranking do BGG haja interesse por parte das pessoas em experimentar o jogo. Acredito que o fato dele estar basicamente esgotado em toda a internet é atestado desse interesse.

      Teremos novidades de Brass em breve!

    Joga na roda que data vai ter novas tiragens aí, rs. Quero comprar os 2.

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